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20230712 Cultura em Coimbra

Casa da Escrita

Os livros são mais importantes do que nós próprios. São as nossas escolhas, as nossas paixões, histórias que nunca mais acabam. Se precisasse de um objecto para sonhar muito, tinha de me lembrar destes livros que estão atrás de mim [...] Eduardo Lourenço, na inauguração da sala Eduardo Lourenço (Casa da Escrita, 29 de Novembro 2015)

Um estudo pioneiro recentemente conduzido pela Fundação Gulbenkian e pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, revelou os hábitos de leitura em Portugal em 2022, a percentagem de inquiridos que não leu um único livro impresso foi de 61%. Menos ainda leram em formato digital, fixando-se em apenas 10% os que o fizeram. Até à adolescência, a maioria dos inquiridos revelam nunca ter sido levados a uma livraria (71%) ou a uma biblioteca (77%); 47% nunca receberam um livro; mais de metade (57%) nunca ouviu ler uma história em criança. O estudo deixa clara a influência da origem sócio-económica das dificuldades de acesso. Notícias dos últimos dias revelam que as dificuldades de interpretação são responsáveis por parte das dificuldades sentidas pelos estudantes ... na disciplina de matemática.

Perante este retrato, o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra entende que ter, no município que dirige, um equipamento denominado Casa da Escrita, e como tal dedicado à promoção da escrita e à divulgação do livro e da leitura, é algo (nas suas palavras) "redutor". 

A ideia de que a escrita, em particular a escrita literária, é algo redutor é uma ideia bizarra. Ideia que, além do mais, ofende a memória deste espaço e daqueles que se cruzaram na casa do poeta João José Cochofel: alguns dos maiores cultores da língua portuguesa do séc.XX que, entre outras coisas, acreditavam que a literatura tem uma parte na "redutora" tarefa de transformar o mundo. Aqui, a partir dos livros e da sua escrita, se cruzaram os principais debates e disputas sobre estética, política e sociedade. E foi por essa razão que Eduardo Lourenço chamou a este espaço um "Castelo de Sonhos" e optou por doar à Casa da Escrita 3000 livros da sua colecção individual. São estes objectos de que o pensador se servia para "sonhar muito" que o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra entende serem "redutores". Se pensarmos que na origem dos resultados do estudo sobre hábitos de leitura está, entre outras, uma clara desvalorização do valor social do livro e da leitura, percebemos que esta afirmação é parte do problema.

A Casa da Escrita foi adquirida pela Câmara Municipal de Coimbra, pela sua história, como espaço privilegiado para ser um equipamento público dedicado à promoção da escrita, do livro e da leitura.

A sua existência não é um constrangimento para a cidade - é um equipamento para “sonhar muito”, uma ferramenta que pode ser decisiva como pilar de um serviço público de cultura que entenda o livro, a leitura e a literatura como condição da emancipação cultural.

A Casa da Escrita não precisa de procurar na vacuidade de conceitos descritos na Wikipedia a sua missão.  Precisa, sim, de ver concretizada a missão para qual foi adquirida e requalificada, tornando-a um verdadeiro espaço de promoção da escrita e da criação literária, do livro e da leitura, de vocação universalista, aberto a todas as línguas e culturas.

A Casa da Escrita precisa, isso sim, de ver contada a sua história numa exposição permanente que permita conhecer a origem do edifício, mas fundamentalmente a efervescência cultural dos convívios que acolheu; o papel do núcleo de Coimbra do movimento neo-realista; seus protagonistas, suas polémicas internas; os movimentos que, vindos de trás, o influenciaram, ramificações que originou, influências que tem gerado, até hoje.

A Casa da Escrita, em articulação com a Biblioteca Municipal, precisa de abrir as portas das suas bibliotecas, dando a conhecer presencial e digitalmente o catálogo dos livros aí presentes e garantir o acesso, a requisição e a consulta dos mesmos;

A Casa da Escrita precisa de uma programação que inclua:

a divulgação e o acesso ao espólio de livros existente (colecção original e colecção Eduardo Lourenço);

residências de criação literária de escritores com obra publicada, mas também de novos escritores, assumindo o apoio à criação literária como um dos desígnios do espaço;

encontros de escritores com leitores, com a realização de cursos/laboratórios de escrita, para vários públicos e faixas etárias;

visitas de escolas, com actividades pedagógicas ligadas à escrita e à leitura;

lançamentos de livros;

clubes de leitura;

abertura de uma livraria, aliás anunciada aquando da inauguração…

Aquilo que se conhece sobre o futuro da Casa da Escrita é pouco. As informações dadas pelo presidente de Câmara são evasivas e contraditórias com outras informações tornadas públicas, fazendo temer a existência de compromissos assumidos sem transparência e sem discussão pública, nas costas da cidade e dos eleitos. Para quem tanto quer usar o nome da cidadania, há que lembrar que ela não se cumpre sem participação pública nos destinos da cidade.

Entretanto, o pouco que se sabe - sobre o projecto e a associação chamada a protagonizá-lo - permite perceber que o que se pretende não é apenas re-baptizar o espaço, mas redefinir os seus objetivos, trocando uma missão concreta e com objectivos definidos, por generalidades que insistindo em conceitos como "marca",  "atractividade" e "diplomacia informal" deixam soterradas a noção de serviço público de apoio à escrita e à promoção do livro e da leitura.

'Programa Municipal de Apoio ao Ecossistema Cultural

Esta obsessão com a “marca” é a mesma que vamos encontrar na proposta de Regulamento do chamado “Programa de Apoio ao Ecossistema Cultural”, recentemente apresentada ao Conselho Municipal de Cultura. Saudamos a consulta do Conselho, sem no entanto deixar de recordar que este processo foi atabalhoadamente iniciado em reunião de Câmara de Dezembro e, não fosse a intervenção do vereador do PCP, a cidade estaria até agora sem qualquer instrumento regulamentar de apoio ao associativismo, uma vez que era intenção do Presidente da Câmara revogar o anterior regulamento sem a aprovação deste que agora se discute.

O PCP não abdicará de intervir com as suas propostas para melhorar este instrumento importante da política de apoio à cultura, mas, entretanto, há sinais reveladores que não podemos deixar de assinalar. Anunciada como a grande novidade deste regulamento, “a afirmação [...] da marca ‘Coimbra’” surge no topo dos objectivos da política de apoios à Cultura, à frente da “coesão social e territorial”, da “redução de assimetrias culturais" e da “descentralização”, da promoção do património cultural ou, ainda, da valorização da “produção e criação emergentes”... É de facto a “marca” de uma política.

O PCP não ignora nem renega o potencial económico da cultura, a sua ligação ao trabalho e o seu potencial de criação de riqueza. Mas, num momento de imposição das leis do mercado em todos os setores da sociedade portuguesa, é vital a adoção de políticas culturais que gerem dinâmicas para além da redutora dimensão do entretenimento e da ocupação dos “tempos livres”, que reduzem as culturas locais à condição de produtoras do “pitoresco”, subsidiárias de outras atividades, como o turismo. Contrariar tal tendência deverá ser, quanto a nós, o desígnio de uma verdadeira política cultural municipal.

Convento de São Francisco

Conhece-se agora a nomeação de um novo responsável pela programação do Convento de São Francisco, mas o espaço continua sem programa, como se conclui da garantia dada pela CMC de que o equipamento terá uma identidade programática “definida, diferenciadora e impactante.” O mesmo é dizer: continuam por definir o modelo de gestão e a missão daquele equipamento municipal, contrariando um dos inflamados compromissos pré e pós-eleitorais do actual Presidente.

No entender do PCP, qualquer modelo de gestão que venha a ser encontrado para o Convento de S. Francisco, tem de assegurar a natureza pública do financiamento e da gestão daquele espaço, mas recusamos que a falta de definição do dito modelo de gestão seja pretexto para manter e perpetuar a precariedade dos trabalhadores, devendo proceder-se no imediato, à regularização dos vínculos e condições de trabalho da equipa necessária ao seu funcionamento.

Teatro Sousa Bastos

O PCP valoriza e é favorável à posse administrativa do imóvel do antigo Teatro Sousa Bastos, para que finalmente se possa avançar com a sua reabilitação. Em 2017, aquando da aprovação do projecto de arquitectura submetido pelo promotor, foi também aprovada a aceitação de cedência para o domínio privado do Município de uma área de 724,30m2 destinada a atividades culturais. Já então o PCP alertou para que a função e o destino a dar à área cedida eram (e continuam a ser) muito vagos. Torna-se assim premente uma reflexão pública e uma discussão alargada sobre o que fazer daquele espaço, que envolva os agentes culturais, designadamente, e não só, o Conselho Municipal de Cultura.

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